É na adversidade que se encontram
soluções para enfrentar as dificuldades. Um exemplo vem deste município na
região Centro-Sul do Ceará. Pai e filhos não desistiram do plantio e da criação
de animais bovinos e ovinos. Eles investiram em tecnologia simples, irrigação
localizada. Resultado: o verde do milharal se espalha na propriedade em
contraste com a caatinga seca e cinza ao redor.
O esforço do
agricultor Luís Dias Gouveia, 71, conhecido por Deusdete, e dos três filhos vem
dando certo. São três safras do grão por ano. O modelo implantado em 2015, na
propriedade, no Sítio Ingá, na região de Bananeira, na divisa entre o Ceará e a
Paraíba, já incentivou outros 15 produtores rurais no Município.
Modelo
típico
O que se vê na propriedade é um típico
modelo de agricultura familiar do sertão cearense. O pai é agricultor já
aposentado, acostumado a enfrentar períodos de seca e de inverno, escassez e
fartura, mas que não quer largar tão cedo o trabalho duro. Luís Gouveia e os
filhos, Leoberto, Lindomar e Luís Filho trabalham de forma unida cultivando
grãos, criando animais (bovinos, ovinos, galinhas e capotes).
Em
um ano, a unidade obteve uma renda superior a R$ 24 mil com a venda de milho
verde em espiga, ração e leite. O filhos, casados, moram próximo ao pai. Há
máquinas agrícolas e veículos para transporte da produção. A fazenda é pequena,
mas bem estruturada. Do alpendre da casa se avista um serrote que divide o
Ceará da Paraíba. O correr da vista mostra um sertão cada vez mais seco, que
arde nesta época do ano.
Até o ano passado, a maioria do
plantio no Sítio Ingá era de sequeiro (aquele que depende exclusivamente da
chuva). Pouca coisa se aproveitava porque desde 2012, o Ceará enfrenta um
período de precipitações irregulares e abaixo da média. A baixa pluviometria
destruía a lavoura. A família enfrentava enormes dificuldades para manutenção
de um rebanho de cem cabeças de gado e de 50 ovelhas.
Na
propriedade, havia uma pequena área com irrigação por aspersão de capim e
milho. No início de 2015, houve a mudança a partir da visita de técnicos do
escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará
(Ematerce). "Vimos que a fazenda tinha potencial e sugerimos um modelo de
irrigação por gotejamento, com algumas adaptações", diz o chefe do escritório
local, Francisco Rasputin Alexandre Barbosa.
Não houve
resistência. Motores, canos e o poço foram aproveitados. Outros equipamentos
foram adquiridos e, com apenas R$ 1.350, o sistema de gotejamento foi
implantado, permitindo o cultivo de três áreas de milho, um pouco mais de um
hectare. "Ainda é um espaço reduzido porque depois de cinco anos de seca a
água está se acabando no poço", afirma Leoberto Braz, 48.
Em
2015, foram colhidas três safras. Neste ano, a família já começou a colher a
segunda safra de milho e o plantio da terceira já se desenvolve em outra área.
"A nossa situação já melhorou bastante, e não há comparação com a escassez
que a gente enfrentava", diz o patriarca, Luís Gouveia. "A minha
preocupação é com o próximo inverno porque as águas estão baixando nos
poços", ressalta.
Os produtores rurais sofrem em meio à
seca. Com a família de seu Luís Gouveia não era diferente. Era preciso comprar
ração de produtores na Chapada Jaguaribe-Apodi. O gado estava magro e o custo
de criação era alto.
Exemplo
O
plantio de milho irrigado por gotejamento se tornou exemplo para outros 15
agricultores e hoje o Município já conta com 12 hectares irrigados por
gotejamento. Do total dessa área, 90% são de milho e 10% de feijão.
"Queremos ampliar esse modelo de plantio para produtores de outros
municípios", disse o gerente regional da Ematerce, Joaquim Virgulino
Neto.
Recentemente, o presidente da Ematerce, Antonio
Amorim, visitou áreas de cultivo em Ipaumirim e mostrou-se surpreso com o que
viu. "Em plena seca, produtores conseguem encontrar água no subsolo e
fazer pequenos cultivos irrigados que vão se somando e tornam-se
representativos. Essas experiências de sucesso serão levadas para outros
agricultores", destaca.
O sertanejo sempre foi um
resistente e a seca ensinou os produtores rurais a se adaptarem, encontrando
meios de manter a criação e a produção agrícola. No Sítio Ingá, a silagem de 40
mil quilos de ração já foi consumida. Agora, após o corte, o milho é triturado
em uma máquina forrageira e diariamente servido aos animais. Não há mais tempo
para se fazer estoque.
O agricultor Vicente Gonçalves,
adepto do novo modelo produtivo, passou a cultivar o grão e vender a unidade de
espiga de milho verde por R$ 0,30 no mercado regional. Não faltam compradores.
Outros produtores rurais, José Sales, Lucieudo Tavares e Giovane Dantas
seguiram o exemplo do Sítio Ingá e estão mantendo o rebanho com produção
própria de milho e capim.
No Sítio Ingá, há 30 vacas
produzindo leite, que é vendido para um laticínio que faz a coleta em
Ipaumirim. A média de produção é reduzida, cinco litros por animal. "A
próxima etapa será a melhoria genética do rebanho", ressalta o veterinário
da Ematerce, Mauro Nogueira. Os criadores serão acompanhados pelo veterinário do
escritório local, Marcílio Macedo. "Se no próximo ano as condições de
chuvas forem favoráveis vamos orientar e incentivar a aquisição de matrizes que
produzam mais leite, ampliando a oferta do produto e mantendo os custos",
frisa.
Fonte: Diário do Nordeste