Um grupo internacional de cientistas afirma ter
conseguido suprimir o vírus HIV dos organismos de cinco pacientes infectados -
e impedir que ele voltasse a se replicar-, substituindo o uso diário de drogas
antiretrovirais por uma nova terapia com base em vacinação.
No estudo, conduzido ao longo de três anos, os
cientistas combinaram duas novas vacinas experimentais contra o HIV com uma
droga amplamente utilizada no tratamento de câncer. Depois do tratamento, o
vírus teria sido suprimido em cinco dos 24 pacientes que participaram do
experimento.
Os resultados da pesquisa foram divulgados na
semana passada, na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas,
realizada em Seattle, nos Estados Unidos, de acordo com a revista de divulgação
científica New Scientist.
Embora os resultados sejam considerados animadores,
os próprios autores alertam que será preciso realizar novos estudos e,
principalmente, acompanhar os pacientes por mais tempo. Segundo eles,
tratamentos desenvolvidos antes aparentemente curavam as pessoas infectadas com
o HIV, mas o vírus acabava voltando depois de algum tempo.
A maior parte das pessoas infectadas com o HIV
precisa tomar drogas antiretrovirais diariamente para impedir que o vírus se
replique, causando danos ao sistema imune. Essas drogas precisam ser tomada ao
longo de toda a vida, porque o vírus pode ficar oculto nas células de certos
tecidos e, sem a medicação, acaba ressurgindo rapidamente.
Com o novo tratamento, porém, os pesquisadores
dizem ter conseguido eliminar o vírus e fazer com que o próprio organismo dos
pacientes se encarregasse de impedir seu ressurgimento.
O grupo de pesquisadores foi liderado por Beatriz
Mothe, do Instituto de Pesquisa sobre Aids IrisCaixa, em Barcelona (Espanha).
Há três anos eles iniciaram os testes em 24 pessoas que haviam sido
diagnosticadas recentemente com o HIV. Os pacientes receberam duas vacinas,
desenvolvidas por cientistas da Universidade de Oxford (Reino Unido), além de
drogas antiretrovirais.
Em 2017, 15 dos pacientes receberam mais uma dose
de uma das vacinas, seguida por três doses de romidepsin, uma droga anticâncer
que havia mostrado potencial para impedir que o HIV se escondesse. Depois, os
pacientes tomaram mais uma dose de vacina e pararam de tomar os
antiretrovirais.
Em 10 dos pacientes, o vírus voltou rapidamente e
eles tiveram que retomar o uso dos antiretrovirais. Mas cinco deles não
precisaram voltar a tomar as drogas, porque o próprio sistema imune deles foi
capaz de suprimir o vírus sozinho.
Segundo a New Scientist, um dos cinco pacientes já
está há sete meses sem tomar os antiretrovirais. Os outros quadro estão livres
do vírus por seis, 14, 19 e 21 semanas, respectivamente. Os pacientes serão
acompanhados para que os cientistas verifiquem por quanto tempo seus organismos
conseguem controlar o vírus por si sós.
De acordo com os autores do estudo, não está claro
ainda porque o novo tratamento não deu certo para dois terços do grupo de
pacientes.
Como funciona
As duas vacinas usadas no experimento possuem genes
que comandam a produção de certas proteínas que também estão presentes em todas
as linhagens do HIV. Uma dessas proteínas chega ao sangue e é reconhecida pelo
sistema imune como invasora. Isso ativa um tipo de células de defesa do
organismo - chamadas células-T citotóxicas CD8 - que se tornam capazes de
reconhecer, atacar e destruir as células infectadas pelo HIV.
O segundo componente da terapia, o romidepsin, faz
com que os vírus HIV adormecidos saiam de seu esconderijo e sejam atacados
pelas células CD8. Com informações do Estadão Conteúdo.