quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Agricultores produzem milho em meio à seca



É na adversidade que se encontram soluções para enfrentar as dificuldades. Um exemplo vem deste município na região Centro-Sul do Ceará. Pai e filhos não desistiram do plantio e da criação de animais bovinos e ovinos. Eles investiram em tecnologia simples, irrigação localizada. Resultado: o verde do milharal se espalha na propriedade em contraste com a caatinga seca e cinza ao redor.

O esforço do agricultor Luís Dias Gouveia, 71, conhecido por Deusdete, e dos três filhos vem dando certo. São três safras do grão por ano. O modelo implantado em 2015, na propriedade, no Sítio Ingá, na região de Bananeira, na divisa entre o Ceará e a Paraíba, já incentivou outros 15 produtores rurais no Município.

Modelo típico

O que se vê na propriedade é um típico modelo de agricultura familiar do sertão cearense. O pai é agricultor já aposentado, acostumado a enfrentar períodos de seca e de inverno, escassez e fartura, mas que não quer largar tão cedo o trabalho duro. Luís Gouveia e os filhos, Leoberto, Lindomar e Luís Filho trabalham de forma unida cultivando grãos, criando animais (bovinos, ovinos, galinhas e capotes).

Em um ano, a unidade obteve uma renda superior a R$ 24 mil com a venda de milho verde em espiga, ração e leite. O filhos, casados, moram próximo ao pai. Há máquinas agrícolas e veículos para transporte da produção. A fazenda é pequena, mas bem estruturada. Do alpendre da casa se avista um serrote que divide o Ceará da Paraíba. O correr da vista mostra um sertão cada vez mais seco, que arde nesta época do ano.

Até o ano passado, a maioria do plantio no Sítio Ingá era de sequeiro (aquele que depende exclusivamente da chuva). Pouca coisa se aproveitava porque desde 2012, o Ceará enfrenta um período de precipitações irregulares e abaixo da média. A baixa pluviometria destruía a lavoura. A família enfrentava enormes dificuldades para manutenção de um rebanho de cem cabeças de gado e de 50 ovelhas.

Na propriedade, havia uma pequena área com irrigação por aspersão de capim e milho. No início de 2015, houve a mudança a partir da visita de técnicos do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce). "Vimos que a fazenda tinha potencial e sugerimos um modelo de irrigação por gotejamento, com algumas adaptações", diz o chefe do escritório local, Francisco Rasputin Alexandre Barbosa.

Não houve resistência. Motores, canos e o poço foram aproveitados. Outros equipamentos foram adquiridos e, com apenas R$ 1.350, o sistema de gotejamento foi implantado, permitindo o cultivo de três áreas de milho, um pouco mais de um hectare. "Ainda é um espaço reduzido porque depois de cinco anos de seca a água está se acabando no poço", afirma Leoberto Braz, 48.

Em 2015, foram colhidas três safras. Neste ano, a família já começou a colher a segunda safra de milho e o plantio da terceira já se desenvolve em outra área. "A nossa situação já melhorou bastante, e não há comparação com a escassez que a gente enfrentava", diz o patriarca, Luís Gouveia. "A minha preocupação é com o próximo inverno porque as águas estão baixando nos poços", ressalta.

Os produtores rurais sofrem em meio à seca. Com a família de seu Luís Gouveia não era diferente. Era preciso comprar ração de produtores na Chapada Jaguaribe-Apodi. O gado estava magro e o custo de criação era alto.

Exemplo

O plantio de milho irrigado por gotejamento se tornou exemplo para outros 15 agricultores e hoje o Município já conta com 12 hectares irrigados por gotejamento. Do total dessa área, 90% são de milho e 10% de feijão. "Queremos ampliar esse modelo de plantio para produtores de outros municípios", disse o gerente regional da Ematerce, Joaquim Virgulino Neto.

Recentemente, o presidente da Ematerce, Antonio Amorim, visitou áreas de cultivo em Ipaumirim e mostrou-se surpreso com o que viu. "Em plena seca, produtores conseguem encontrar água no subsolo e fazer pequenos cultivos irrigados que vão se somando e tornam-se representativos. Essas experiências de sucesso serão levadas para outros agricultores", destaca.

O sertanejo sempre foi um resistente e a seca ensinou os produtores rurais a se adaptarem, encontrando meios de manter a criação e a produção agrícola. No Sítio Ingá, a silagem de 40 mil quilos de ração já foi consumida. Agora, após o corte, o milho é triturado em uma máquina forrageira e diariamente servido aos animais. Não há mais tempo para se fazer estoque.

O agricultor Vicente Gonçalves, adepto do novo modelo produtivo, passou a cultivar o grão e vender a unidade de espiga de milho verde por R$ 0,30 no mercado regional. Não faltam compradores. Outros produtores rurais, José Sales, Lucieudo Tavares e Giovane Dantas seguiram o exemplo do Sítio Ingá e estão mantendo o rebanho com produção própria de milho e capim.

No Sítio Ingá, há 30 vacas produzindo leite, que é vendido para um laticínio que faz a coleta em Ipaumirim. A média de produção é reduzida, cinco litros por animal. "A próxima etapa será a melhoria genética do rebanho", ressalta o veterinário da Ematerce, Mauro Nogueira. Os criadores serão acompanhados pelo veterinário do escritório local, Marcílio Macedo. "Se no próximo ano as condições de chuvas forem favoráveis vamos orientar e incentivar a aquisição de matrizes que produzam mais leite, ampliando a oferta do produto e mantendo os custos", frisa.

Fonte: Diário do Nordeste

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