A plataforma Wikileaks revelou nesta terça-feira
(07/03) que obteve milhares de documentos que detalham um sofisticado
arsenal tecnológico desenvolvido pela Agência Central de Inteligência dos EUA
(CIA) para espionar smartphones, computadores e até mesmo televisões.
Segundo o site, alguns dos programas, que incluem
malwares, vírus e cavalos de troia, são capazes até mesmo de contornar a
criptografia de aplicativos de mensagens populares como o Whatsapp e o Telegram.
O site afirma que disponibilizou 8.761 documentos e
arquivos que descrevem esse arsenal, que teria sido desenvolvido numa unidade
de alta segurança isolada e situada dentro do Centro de Ciberinteligência da
CIA, em Langley, no estado da Virgínia. O Wikileaks afirmou ainda que esses
documentos consistem em apenas uma parte do que foi obtido.
O site não informou quem forneceu o material. Disse
apenas que os programas estavam circulando de uma forma "não
autorizada" entre funcionários e hackers que trabalham para o governo e
que um deles enviou o material para o Wikileaks.
Essa fonte afirmou que fez isso para iniciar uma
discussão sobre se "as capacidades da CIA ultrapassam seus poderes" e
o "problema de fiscalização da agência por parte do público". A fonte
disse ainda que o debate deve girar em torno de "segurança, criação,
uso, proliferação e controle democrático de ciberarmas".
Os documentos divulgados pela plataforma foram
criados entre 2013 e 2016. O Wikileaks descreveu a divulgação como o maior ato
de "publicação de documentos confidenciais da agência [CIA]".
Segundo o jornal New York Times, um
ex-agente da CIA disse que uma breve análise dos documentos sugere que eles são
genuínos.
No passado, o Wikileaks foi acusado de divulgar
documentos sem critérios, algo que colocou agentes e funcionários dos EUA em
risco. Desta vez, o site afirma ter tomado medidas para ocultar os nomes de
pessoas envolvidas com o programa da CIA.
O site também afirmou que não pretende divulgar o
código de ciberarmas que podem ser usadas atualmente "até que exista um
consenso sobre a natureza política e técnica do programa da CIA e de como essas
armas devem ser analisadas, desmanteladas e publicadas".
TVs espiãs
Algumas das ferramentas descritas nos documentos
têm como alvo produtos amplamente usados. Uma delas, chamada Weeping Angel
(anjo chorão), penetra smart TVs da Samsung e transforma os equipamentos em
dispositivos de escuta, mesmo quando elas estão desligadas.
Outros aparelhos e programas que podem ser alvos
das ciberarmas da CIA incluem o iPhone da Apple, e os sistemas Android, da
Google, e Windows, da Microsoft.
Um porta-voz da CIA disse ao Washington Post que
a agência não ia comentar por enquanto sobre o vazamento.
Se os documentos forem confirmados como autênticos,
o ato do Wikileaks deve representar mais um golpe para a inteligência
americana, que ainda sofre os efeitos dos vazamentos promovidos pelo
ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden em 2013.
Recentemente, o Wikileaks se envolveu numa série de
controvérsias durante a última eleição presidencial americana. O site publicou
mensagens de membros do partido Democrata que acabaram prejudicando a campanha
da candidata Hillary Clinton.
Membros de agências de inteligência dos EUA
acusaram o site de servir como fachada de interesses do governo russo, que
teria promovido a espionagem e usado o Wikileaks para interferir nas eleições.
O fundador do site, o australiano Julian Assange, está asilado desde 2012 na
embaixada do Equador em Londres.
JPS/ots