Centenas de moradores desta
cidade, na região Centro-Sul do Ceará, participaram, na manhã de ontem, de uma
manifestação contra a abertura em vazão máxima da válvula dispersora do Açude
Orós, que libera água para o Açude Castanhão, por meio do Rio Jaguaribe, e para
outras cidades do Baixo Jaguaribe. Houve invasão do entorno da casa das
máquinas e retirada de sacos de areia de contenção para facilitar o alagamento
da unidade de bombeamento.
O
objetivo dos manifestantes era impedir o funcionamento das máquinas de
bombeamento. O protesto começou às 8h, com a interdição da ponte sobre o Rio
Jaguaribe, no trecho da Rodovia Padre Cícero, por 30min. Depois, os
manifestantes foram até a válvula dispersora. O temor dos moradores é o
esvaziamento do reservatório nos próximos meses e a falta de água para atender
à demanda local e dos produtores rurais no entorno da bacia do Açude. Esse foi
o terceiro protesto. O primeiro ocorreu em julho de 2016 e o segundo, em
novembro.
Na
manifestação de ontem, policiais militares acompanharam o ato, mas não houve
confrontos. Os organizadores afirmaram que não eram contrários à liberação de
água para atender as necessidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF),
mas a falta de medidas compensatórias e de permanência de um mínimo de água
para suprir a demanda local.
O
integrante do Comitê da Bacia do Alto Jaguaribe, Paulo Landim, disse que a
liberação de 16m3/s, no Açude Orós, foi definida em reunião dos comitês, em
julho de 2016, com prazo de encerramento em 31 de janeiro passado. "Já se
passaram mais de seis dias e até agora não houve nenhuma manifestação por parte
do governo do Estado e da Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos)", disse Landim. "Não sabemos quando haverá nova reunião.
Pelo visto, os comitês têm apenas papel decorativo, já que todas as decisões
são impostas pelo governo".
Paulo
Landim disse que a manifestação tem o objetivo de sensibilizar o governo.
"Os produtores e moradores do entorno do açude estão sendo prejudicados
com a retirada excessiva de água", frisou. O Açude Orós acumula atualmente
11,7% de sua capacidade. "A situação vem se agravando cada vez mais, e,
sem chuva, o nosso temor é a falta de água", reafirmou Landim.
O
nível do açude cai 4cm a cada 24h. A liberação representa o volume de cinco
carros-pipa a cada dois segundos. A redução de água no reservatório preocupa os
moradores. "Secaram o Banabuiú, o Castanhão e outros açudes para atender a
demanda da Região de Fortaleza, projetos de irrigação e agora estão esvaziando
o Orós", lamentou o professor Carlos Custódio.
Após
o protesto, a Cogerh, por meio de nota, esclareceu que a liberação de água para
as sedes de Jaguaribe e Jaguaretama, comunidades ribeirinhas e transferência
para RMF não foi prejudicada. Hoje, uma equipe da Cogerh irá ao local para
elaborar estudo para restabelecer o bombeamento do sistema Orós-Feiticeiro, que
foi afetado.
A
Cogerh esclareceu, ainda, que no XXIII Seminário de Alocação Negociada das
Águas dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú, no dia 20 de julho, em Limoeiro Norte,
ficou deliberado que o Orós iria contribuir para a segurança hídrica do Vale do
Jaguaribe e, complementarmente, para a RMF. Assim, foi aprovado pelo Comitês de
Bacias Hidrográficas que o reservatório chegaria, no dia 1º de fevereiro de
2017, com o volume de 171,1 mi de m³, no entanto, no dia 6 de fevereiro, o
açude ainda encontra-se com 227,06 mi de m³.