A situação de emergência decretada em 133 dos 184 municípios cearenses não impediu que vários prefeitos anunciassem um extenso – e caro – calendário de festas de São João para este ano. Embora tenham recorrido ao Governo do Estado e à União em busca de verbas para minimizar os efeitos das enchentes, eles optaram por não cancelar os festejos juninos e tampouco abriram mão de artistas que costumam cobrar preços altos pelo cachê. As apresentações ocorrerão, na maioria dos casos, como parte da programação de festivais de quadrilha. Dentre os destaque, nomes de sucesso nacional, como Zezé di Camargo e Luciano.
A dupla sertaneja estará presente em pelo menos duas cidades: Icó, a 380 km de Fortaleza, e Tejuçuoca, a 145 km da Capital. Na primeira, o prefeito Marcos Nunes (PMDB) decretou emergência em abril, ao alegar problemas em estradas, bocas-de-lobo e vários pontos de alagamento. Ainda assim, Icó receberá, além de Zezé di Camargo e Luciano, grupos como Moleca Atrevida, Garota Safada e Luizinho de Irauçuba. Já em Tejuçuoca, o decreto de emergência foi registrado pelo prefeito Edilardo da Cruz (PSDB), principalmente, segundo ele, por causa de casas e estradas que ficaram “destruídas”. Mas as chuvas não deverão afetar a realização do IV Festival de Quadrilhas do Município, que ocorre nos dias 26 e 27 deste mês.
Em Iguatu, no Centro-Sul do Ceará, os festejos serão ainda maiores – vão de 22 a 27 de junho. Na página do município na Internet, o evento é apresentado como realização da Prefeitura – comandada por Agenor Neto (PSDB) – em parceria com o Governo Federal. O destaque lá é o forrozeiro Felipão.
Diante da quantidade de decretos de emergência registrados em 2009, o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) começa a investigar, nesta semana, os prefeitos que utilizaram essa ferramenta para ganhar o direito de assinar contratos sem licitação e receber recursos federais em caráter de urgência. Segundo o presidente da Corte, Ernesto Sabóia, pode estar havendo um “desvio de finalidade” em algumas cidades. “Se um município está com uma situação de emergência, significa que todos os esforços deveriam estar voltados pra socorrer a situação”, afirmou.
Procurado pelo O POVO na tarde de ontem, o prefeito de Tejuçuoca, Edilardo da Cruz, explicou que os recursos da festa junina têm origem em emendas parlamentares destinadas especificamente para eventos culturais e que, segundo ele, não podem ser aplicadas em outras áreas. Garantindo que a prioridade continua sendo as estradas deterioradas por causa da chuva, ele acrescentou que as festas nessa época do ano fazem parte da tradição do município. “As pessoas perguntam, fica aquela ansiedade na população, eles querem a festa também”.
Descartando qualquer possibilidade de o município ainda estar em emergência, o prefeito de Icó, Marcos Nunes, disse que o decreto foi registrado apenas porque ele ficou “preocupado” com a intensidade das chuvas. Entretanto, ele garantiu que nenhum contrato foi assinado sem licitação. Além disso, ele afirmou que recebeu apenas R$ 6 mil do Governo do Estado para o socorro às vítimas das enchentes.
Irritado com as perguntas do O POVO, Nunes disse que, para a realização dos shows, o Município recebeu verbas da União, por meio do Ministério do Turismo. O POVO tentou entrar em contato com o prefeito de Iguatu, Agenor Neto, mas as ligações para seu celular não foram atendidas.
fonte:
jornal o povo.
