Com o aumento no volume de água do Rio Jaguaribe, a Defesa Civil de Jaguaruana teme inundações
Jaguaribara. Desde que começou o período chuvoso, o sertanejo do Vale do Jaguaribe e até muitos fortalezenses aguardavam com ansiedade o novo dia em que o maior açude do Ceará iria “roncar”, abrindo suas comportas e levando água para a região do baixo Jaguaribe. Pois aconteceu ontem à tarde a abertura de quatro das 12 comportas da barragem do Castanhão.
As chuvas no Sul do Estado aumentaram sobremaneira o volume de águas no açude e uma comissão formada por representantes do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) decidiu pela liberação de água.
A sangria da barragem tem atraído centenas de curiosos em visita ao local para conferir o “espetáculo das águas”. Por outro lado, a população de Jaguaruana está com medo de que o aumento do volume do Rio Jaguaribe deixe a cidade mais alagada do que já está.
Algumas dezenas de privilegiados, que chegaram a tempo, não tiravam os olhos do vertedouro onde ficam as 12 comportas do maior açude do Ceará. E às 12h45 as comportas 6 e 7 foram abertas simultaneamente; minutos depois, abriram-se as comportas 2 e 11. “É um momento emocionante”, disse o garoto Luzivânio Mendes, que não piscou o olho até as primeiras águas descerem na ribanceira de pedras.
Os expectadores conferem três “véus de noiva”, como são lembradas as parábolas de águas espumantes que jorram nas pedras e mergulham no lago artificial, totalmente lapidado em uma pedra gigante. Inicialmente cada comporta havia sofrido abertura de 60 centímetros, liberando 50 metros cúbicos por segundo. Duas horas depois a abertura parcial estava em 1,2 metro, liberando uma vazão de 100 metros cúbicos por segundo (ou 100 mil litros por segundo). Juntas, as quatro comportas jogam 400 metros cúbicos de água por segundo para o Rio Jaguaribe.
A abertura das comportas aconteceu na cota 103,72 metros acima do nível do mar, com um acúmulo de 85% no reservatório. São quase 5,7 bilhões de metros cúbicos (a capacidade total é de 6,7 bilhões) no açude, que teve as comportas abertas pela primeira vez no ano de 2004.
O Castanhão aumentou o seu volume de reserva com as chuvas na bacia do salgado. Durante os últimos dois dias têm recebido dessa bacia hidrográfica aproximadamente 600 metros cúbicos de água por segundo. “Mesmo com as comportas abertas o açude continuará recebendo saldo de 200 metros cúbicos, em média”, afirmou Ulisses de Sousa, engenheiro coordenador do Complexo Castanhão. Ele ressaltou que não há prazo para o fechamento das comportas ou abertura de outras mais.
Ele garante que não há motivos para a população ficar preocupada com a abertura das comportas do Castanhão. “O Rio Jaguaribe tem capacidade para receber dois mil metros cúbicos por segundo de água, mas o Castanhão só está liberando 400, apenas 20%”.
Apesar dos esclarecimentos, o coordenador municipal da Defesa Civil de Jaguaruana, Luís Lopes, está preocupado. Ele reclama que “o rio já está cheio e abrindo as comportas do Castanhão a situação fica mais complicada”.
MELQUÍADES JÚNIOR
Colaborador
Fonte: Diario do Nordeste.
