O
corpo magro e a voz rouca e cansada não combinam com o espírito de trabalho, os
gestos e as orientações para as pessoas a sua volta. Mesmo cansada mostra uma
vitalidade incomum para quem esteve há pouco tempo no leito de uma UTI (Unidade
de Terapia Intensiva) e como que miraculada se recuperou para o convívio com as
demais irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, das crianças da sua creche e,
principalmente, dos moradores do Bairro Limoeiro, que cresceu graças ao seu
espírito desbravador.
Irmã
Maria Neli Sobreira da Silveira recebeu a reportagem do Site Miséria com um
sorriso dizendo que não queria nada de “sofisticação” nas fotos e filmagens
porque é uma pessoa simples. Paciente e calmamente aguardou a preparação do
espaço para sentar-se e começar a contar um pouco da longa história de
vida. Com olhar distante relembrou com absoluta e invejável lucidez
o nascimento, 14 de agosto de 1.925 no Sítio Brejo Queimado e da educação
religiosa dos pais João Alexandre da Silveira e Cecília Gonçalves Sobreira.
Humilde lembrou-se de onde aprendeu as primeiras letras (Grupo Escolar Padre
Cícero) e da Escola Normal Rural aos nove e dez anos, respectivamente. Irmã
Neli foi primeira vereadora eleita do município graças ao apoio do Silveira,
sendo que não pediu nenhum voto, tudo em agradecimento por sua dedicação como
educadora. Foi no triênio 1.948/1.950.
A
política não seria o caminho da jovem Neli. Em 1948 monsenhor Manoel Macedo
instituiu a Ordem das Missionárias de Jesus Crucificado em Juazeiro do Norte.
Vocacionada, Neli entra como postulante, aos 24 anos, quando partiu para
Campinas em São Paulo executando votos em fevereiro de Irmã Neli no início da
década de 70 exerceu cargos como de professora de religião da Escola Normal
Rural, de música, do Dispensário Nossa Senhora das Dores e Ginásio Santa
Teresinha. Foi ainda diretora da Escola Felipe Neri. Em 1972 chegou ao Bairro
Limoeiro, onde com apoio da pequena comunidade começou a abrir ruas e a cuidar
da pequena capela construída por padre Climério. Em sua charrete ou,
principalmente, a pé, foi uma desbravadora. Seu zelo para com a capela a
transformou numa bela e moderna igreja dedicada a São José. Fruto de sua
articulação em 2003 o Bispo Diocesano, Dom Fernando Panico instituiu a Paróquia
do Limoeiro.
Construiu
também a residência das irmãs numa época em que sequer energia elétrica havia
no local. O Centro Dispensário Nossa Senhora das Dores foi construído com ajuda
do povo e de religiosos da Alemanha. Pessoalmente coordenou, como se
construtora ou arquiteta fosse, toda a obra. Grata, Irmã Neli reconhece
todos os prefeitos que apoiaram e apoiam seu trabalho no tocante ao custeio do
equipamento. Integrantes da comunidade lembram que antes de qualquer política
governamental a religiosa realizava o sonho da casa própria de pessoas
reconhecidamente pobres com doação de terrenos e até construções. Profundo
conhecedor da vida e história da Irmã Neli, o professor, escritor e memorialista
Renato Casimiro disse certa vez que por toda dedicação a causa do Juazeiro
ela se tornou uma pessoa que transmite intensa carga emocional com
sua figura dócil, mansa, boa e santa com palavras generosas e caráter operoso
minimizando sofrimento de um irmão em Cristo e atuando nas causas
comunitárias.
Edilberto
Sobreira Rocha, também escritor, disse que o crescimento espiritual da Irmã
Neli ocorreu justamente por seu zelo, dinâmica e apostolado das Missionárias de
Jesus Crucificado mudando a visão sobre o Bairro Limoeiro, até a década de
1.970 um lugar esquecido. No entender de Edilberto, Irmã Neli redescobriu o
Bairro Limoeiro. O também professor, escritor e memorialista Daniel Walker
escreveu em 2005 sobre Irmã Neli e disse ser difícil imaginá-la política.
Disse que a família propôs uma carreira política, mas Deus a carreira religiosa
com todos acatando o chamamento. Segundo ainda Daniel, o passar dos anos pode
até minar suas forças, jamais o entusiasmo pelo que faz cuidar dos outros, sua
prioridade, mesmo em detrimento de sua própria saúde. Padre José Adelino
Martins Dantas, dentre as muitas virtudes de Irmã Neli ressalta a de uma mulher
sem vaidades, de hábitos muitos simples e de uma vida inteiramente colocada a
serviço dos mais necessitados.
Poderíamos
falar mais sobre os 90 anos dedicados a igreja e o Juazeiro. Certamente que os
comentários dos internautas contarão mais sobre as virtudes desta mulher, líder
religiosa, comunitária e social. Seria injustiça não lembrar a importância da
amiga Maria Nilce de Andrade, assistente social e fiel escudeira dos trabalhos
da Irmã Neli. Nilce partiu para um plano superior, mas deixou uma marca social
e religiosa e amizades sinceras. Louvemos a Deus agradecendo por seus 90 anos e
cantemos parabéns como que para agradecer sua presença entre nós. Obrigado e
felicidades sempre Irmã Neli.
veja a entrevista completa no link abaixo:
fonte site miséria...