segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Degelo pode causar ressurgimento de vírus e bactérias



Os casos recentes de antraz no extremo norte da Rússia revelam o perigo sanitário do degelo do permafrost, a camada de solo permanentemente congelada que contém vírus nocivos.

Os habitantes da península de Yamal, 2.500 km ao nordeste de Moscou, sofreram na pele: uma criança morreu e outras 23 pessoas contraíram antraz em julho passado. Fazia 75 anos que a infecção tinha desaparecido da região.

"O mais provável é que a fonte da epidemia tenha sido o descongelamento de locais de sepultamento de animais que morreram de antraz 70 anos atrás", diz Boris Kershengoltz, chefe de pesquisa do Instituto Russo de Problemas Biológicos da Zona do Permafrost. Uma vez liberada, a bactéria mortal (um bacilo) infectou várias manadas de renas do país.

A preocupação agora é que este não tenha sido um incidente anormal e isolado e que outras doenças –algumas datando da Idade do Gelo– poderiam ser desencadeadas conforme o aquecimento global derrete partes geladas do norte da Rússia.

A temperatura na Rússia aumenta em média 2,5 vezes mais rápido que no resto do mundo, e no Ártico a mudança é ainda mais veloz.

O antraz é uma doença infecciosa aguda transmitida por esporos da bactéria Bacillus anthracis, que existem naturalmente no solo e podem ser ingeridos por animais e passados para os seres humanos. Se não for tratada, a doença pode ser fatal.

Além do antraz, há uma série de outros perigos à espreita nas covas rasas do Ártico gelado, que podem ser liberados do gelo séculos depois, disse Viktor Maléyev, diretor adjunto do Instituto de Pesquisa Central de Epidemiologia da Rússia.

"Há restos de varíola" no extremo norte do final do século 19, e pesquisadores descobriram "vírus gigantes" em cadáveres de mamutes, explica Maléyev.

"Acredito que as mudanças climáticas vão trazer muitas surpresas", adverte Maléyev. "Não quero assustar ninguém, mas precisamos estar preparados."

AVISO

Dimitri Kobylkin, governador da região Yamalo-Nenetski, onde neste verão morreram mais de 2.000 renas, afirma que estes animais deixaram de ser vacinados, talvez porque se acreditasse que o antraz tinha desaparecido.

Mais de 1.500 pessoas foram vacinadas, e mais de 700 correm risco e estão recebendo tratamento com antibióticos, segundo as autoridades locais. Cerca de 270 tropas estão se encarregando de incinerar os restos dos animais infectados, diz Kobylkin.

Os cientistas lamentam que, em vez de investir em pesquisas sobre as mudanças climáticas, as autoridades só gastem para resolver situações de emergência.

"Quando há fenômenos destrutivos, nós pensamos que seria bom se os tivéssemos prevenido, mas assim que os ímpetos se apagam, tudo isso é esquecido", diz Valéri Malinin, oceanógrafo do Instituto Hidrometeorológico da Rússia.

"Yamal é apenas um sinal de alarme. A natureza vai continuar nos desafiando", completa.

Fonte: AFP

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