Nas últimas décadas, o Rio Salgado, que outrora era local de lazer e pesca para a população das cidades cortadas pelo manancial ao longo de seus 300Km de extensão, tem sofrido com a intensa degradação. A nascente, ao sopé da Serra do Araripe, é o principal afluente do Rio Jaguaribe, além de ser caminho natural para as águas da Transposição do São Francisco, que se avizinha. Apesar da sua importância, ele carece de proteção.
O crescimento dos centros urbanos, a falta de saneamento básico e de consciência ecológica contribuíram para o quadro atual. Sem rede coletora e de tratamento de esgoto, os dejetos são lançados diretamente na calha do rio. O desmatamento e o lixo e entulhos jogados à margem agravam a situação. Considerado por muitos estudiosos como "um rio morto", o Salgado apresentou, em 2012, o pior resultado de análise de água de cidades cearenses, de acordo com classificação do projeto desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica, por meio do Programa Rede das Águas.
Políticas
O professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Rodolfo Sabiá avalia que o maior problema do Rio Salgado, hoje, é a presença de metais pesados (níquel, cromo, chumbo, cádmio etc.), "já que esses metais não sofrem auto depuração ao longo do rio e o caracterizam cada vez mais como morto", destaca.
Segundo o pesquisador, o primeiro passo para rever esse quadro é a criação de políticas públicas que estimulem medidas para adoção de tecnologias e infraestrutura que viabilizem o controle, o monitoramento e a fiscalização dos padrões adequados.
Como segunda ação, diz ele, é urgente que o comitê de bacia, apoiado pelas instituições regionais estude, aprove e delibere o enquadramento das águas do Rio Salgado, normatizando o seu uso frente aos vários tipos de usuários, dizendo o que pode e o que não pode ser feito, controlando monitorando e fiscalizando esse processo. "É necessário, também, criar programa de Educação Ambiental que atinja nossa sociedade para fazer do cidadão informado um agente na transformação na qualidade de água", acrescenta.
Em 2010, a Urca, em parceria com Conselho de Política e Gestão do Meio Ambiente (Compam), executou o Projeto Salgado, um processo participativo para construção do modelo adequado do enquadramento para as águas do manancial. As mais de 100 instituições que participaram do projeto, congregando os municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e Caririaçu, afirmaram que a falta de estrutura e políticas públicas é um fator determinante para esta poluição, e que o problema da Educação Ambiental é agravado pela falta de consciência dos gestores e dos incentivos para a educação de qualidade.
Realidades
A maior contribuição do projeto, que durou um ano, segundo Rodolfo Sabiá, foi a aquisição de um espectrofotômetro de absorção atômica, que mede a quantidade de metais pesados presente na água. Nos municípios de Lavras da Mangabeira e em Icó, a realidade é a mesma. Depois de desaguar no Rio Jaguaribe, as águas oriundas do Velho Chico vão chegar ao Açude Castanhão.
"Essa barragem será um barramento de esgoto?", indaga o chefe do Escritório Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Iguatu, Fábio Bandeira. "As cidades nas margens de riachos e rios não têm saneamento e os esgotos chegam facilmente ao rio". Para o chefe do Ibama, na região, a degradação do Salgado é um problema sério, que afeta a qualidade da água que escorre para os mananciais. "A solução desse problema passa por uma ação conjunta. Esse é problema que precisa ser enfrentado", frisou.
O diretor de fiscalização da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Tiago Bessa, disse entender que a poluição hídrica é um agravante para o sertão, que sofre com a escassez de água. "Os recursos são limitados e ainda poluídos", afirmou. Ele defende uma ampla articulação entre a sociedade e os políticos para fazer cumprir a política nacional e as legislações do saneamento básico.
Resíduos
Em Lavras da Mangabeira, os esgotos chegam ao rio, que também sofre com entulhos e desmatamento. "Infelizmente, esse problema existe, tentamos combater o depósito de resto de material de construção. Concluímos o Plano Municipal de Saneamento Básico e agora aguardamos a aprovação na Câmara e depois a liberação de recursos para a implementação", disse a secretária municipal de Meio Ambiente, Maria Cecília Gonçalves.
Sem investimento em saneamento básico, dezenas de cidades poluem os rios no Interior cearense. Em Icó, o Salgado continua a sofrer degradação antes de despejar suas águas no Rio Jaguaribe. É, portanto, o principal canal escoador das águas do Rio São Francisco. "A chegada de esgoto no leito do rio e outros tipos de agressão ambiental é um problema que vem se agravando", disse João Anselmo dos Santos, do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) de Icó.
Saneamento
Sabiá destaca que "a cada um real gasto com saneamento corresponde a cem reais gastos com saúde, então percebe-se que, se melhorarmos a qualidade de água, iremos melhorar a saúde da população, além de beneficiar a vida aquática, o que representaria mais alimentos disponibilizados para a população".
Em 2012, o professor fez um levantamento fotográfico das agressões ao rio e lançou uma campanha, na Internet, em defesa do Salgado. A lagoa de estabilização de esgotos de Icó continua despejando dejetos no rio. "Esse é um problema que persiste", lamentou Anselmo. No ano passado, começou uma campanha de retirada de lixo e entulho nas margens do Salgado.
O secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, fez uma ponderação ao observar que a água que virá do Rio São Francisco não é diferente da que escorre nos rios cearenses. Questionou também o fato de que os principais açudes já recebem águas que escorrem pelos seus afluentes. "Esse é um problema complexo e a preservação dos rios e combate à poluição foram previstos no projeto de transposição, mas não avançou ainda", disse Teixeira.
O secretário destacou, ainda, que tem a maior preocupação com a problemática do lixo e com sistemas inadequados de tratamento de esgoto, pois a poluição passa a ser concentrada. "Nas condições atuais o esgoto chega diluído, ocorre uma poluição difusa. Se a estação de tratamento não for adequada é pior, porque o dejeto é concentrado e despejado em maior quantidade", observou.
O titular da SRH observou, ainda, que não adianta somente fazer a rede de esgoto, se os moradores não interligarem. "Essa questão é um desafio para todos nós e com certeza a transposição ocasiona a discussão desse problema, que precisa ser enfrentado", disse Francisco Teixeira.
Lixo
Em Juazeiro do Norte, catadores da Associação Engenho do Lixo atuaram, por quase quatro anos, na despoluição do manancial. O trabalho, realizado por cerca de dez catadores, parou, no entanto, por falta de apoio do governo municipal, conforme explica o presidente José Leite da Silva.
"Não tínhamos nenhum incentivo financeiro da Prefeitura e acabamos parando no ano passado por não ser viável", pontuou. Durante o período, os catadores retiraram toneladas de garrafas PET e outros objetivos inusitados. "Cama, madeira, colchão, plásticos, eletrônicos quebrados e até uma urna funerária. Encontramos de tudo por lá", informou.
Há, no entanto, o que não pode ser retirado pelos catadores. Segundo o professor da Urca, o leito também recebe rejeito de matadouros clandestinos que, conforme Rodolfo, despejam cargas de sangue e dejetos de animais. A conclusão foi possível após vários estudos de níveis de poluição da água.
O estudioso considera que o rio está morto mas que "a situação ainda pode ser revertida com amplo trabalho de recuperação, envolvendo desde empresários, poder público, incluindo os órgãos ambientalistas e, claro, a sociedade civil. Se Deus quiser eu ainda verei o povo tomar banho de novo no Rio Salgado", finalizou Sabiá.
Fonte: Diário do Nordeste
O crescimento dos centros urbanos, a falta de saneamento básico e de consciência ecológica contribuíram para o quadro atual. Sem rede coletora e de tratamento de esgoto, os dejetos são lançados diretamente na calha do rio. O desmatamento e o lixo e entulhos jogados à margem agravam a situação. Considerado por muitos estudiosos como "um rio morto", o Salgado apresentou, em 2012, o pior resultado de análise de água de cidades cearenses, de acordo com classificação do projeto desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica, por meio do Programa Rede das Águas.
Políticas
O professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Rodolfo Sabiá avalia que o maior problema do Rio Salgado, hoje, é a presença de metais pesados (níquel, cromo, chumbo, cádmio etc.), "já que esses metais não sofrem auto depuração ao longo do rio e o caracterizam cada vez mais como morto", destaca.
Segundo o pesquisador, o primeiro passo para rever esse quadro é a criação de políticas públicas que estimulem medidas para adoção de tecnologias e infraestrutura que viabilizem o controle, o monitoramento e a fiscalização dos padrões adequados.
Como segunda ação, diz ele, é urgente que o comitê de bacia, apoiado pelas instituições regionais estude, aprove e delibere o enquadramento das águas do Rio Salgado, normatizando o seu uso frente aos vários tipos de usuários, dizendo o que pode e o que não pode ser feito, controlando monitorando e fiscalizando esse processo. "É necessário, também, criar programa de Educação Ambiental que atinja nossa sociedade para fazer do cidadão informado um agente na transformação na qualidade de água", acrescenta.
Em 2010, a Urca, em parceria com Conselho de Política e Gestão do Meio Ambiente (Compam), executou o Projeto Salgado, um processo participativo para construção do modelo adequado do enquadramento para as águas do manancial. As mais de 100 instituições que participaram do projeto, congregando os municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e Caririaçu, afirmaram que a falta de estrutura e políticas públicas é um fator determinante para esta poluição, e que o problema da Educação Ambiental é agravado pela falta de consciência dos gestores e dos incentivos para a educação de qualidade.
Realidades
A maior contribuição do projeto, que durou um ano, segundo Rodolfo Sabiá, foi a aquisição de um espectrofotômetro de absorção atômica, que mede a quantidade de metais pesados presente na água. Nos municípios de Lavras da Mangabeira e em Icó, a realidade é a mesma. Depois de desaguar no Rio Jaguaribe, as águas oriundas do Velho Chico vão chegar ao Açude Castanhão.
"Essa barragem será um barramento de esgoto?", indaga o chefe do Escritório Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Iguatu, Fábio Bandeira. "As cidades nas margens de riachos e rios não têm saneamento e os esgotos chegam facilmente ao rio". Para o chefe do Ibama, na região, a degradação do Salgado é um problema sério, que afeta a qualidade da água que escorre para os mananciais. "A solução desse problema passa por uma ação conjunta. Esse é problema que precisa ser enfrentado", frisou.
O diretor de fiscalização da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Tiago Bessa, disse entender que a poluição hídrica é um agravante para o sertão, que sofre com a escassez de água. "Os recursos são limitados e ainda poluídos", afirmou. Ele defende uma ampla articulação entre a sociedade e os políticos para fazer cumprir a política nacional e as legislações do saneamento básico.
Resíduos
Em Lavras da Mangabeira, os esgotos chegam ao rio, que também sofre com entulhos e desmatamento. "Infelizmente, esse problema existe, tentamos combater o depósito de resto de material de construção. Concluímos o Plano Municipal de Saneamento Básico e agora aguardamos a aprovação na Câmara e depois a liberação de recursos para a implementação", disse a secretária municipal de Meio Ambiente, Maria Cecília Gonçalves.
Sem investimento em saneamento básico, dezenas de cidades poluem os rios no Interior cearense. Em Icó, o Salgado continua a sofrer degradação antes de despejar suas águas no Rio Jaguaribe. É, portanto, o principal canal escoador das águas do Rio São Francisco. "A chegada de esgoto no leito do rio e outros tipos de agressão ambiental é um problema que vem se agravando", disse João Anselmo dos Santos, do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) de Icó.
Saneamento
Sabiá destaca que "a cada um real gasto com saneamento corresponde a cem reais gastos com saúde, então percebe-se que, se melhorarmos a qualidade de água, iremos melhorar a saúde da população, além de beneficiar a vida aquática, o que representaria mais alimentos disponibilizados para a população".
Em 2012, o professor fez um levantamento fotográfico das agressões ao rio e lançou uma campanha, na Internet, em defesa do Salgado. A lagoa de estabilização de esgotos de Icó continua despejando dejetos no rio. "Esse é um problema que persiste", lamentou Anselmo. No ano passado, começou uma campanha de retirada de lixo e entulho nas margens do Salgado.
O secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, fez uma ponderação ao observar que a água que virá do Rio São Francisco não é diferente da que escorre nos rios cearenses. Questionou também o fato de que os principais açudes já recebem águas que escorrem pelos seus afluentes. "Esse é um problema complexo e a preservação dos rios e combate à poluição foram previstos no projeto de transposição, mas não avançou ainda", disse Teixeira.
O secretário destacou, ainda, que tem a maior preocupação com a problemática do lixo e com sistemas inadequados de tratamento de esgoto, pois a poluição passa a ser concentrada. "Nas condições atuais o esgoto chega diluído, ocorre uma poluição difusa. Se a estação de tratamento não for adequada é pior, porque o dejeto é concentrado e despejado em maior quantidade", observou.
O titular da SRH observou, ainda, que não adianta somente fazer a rede de esgoto, se os moradores não interligarem. "Essa questão é um desafio para todos nós e com certeza a transposição ocasiona a discussão desse problema, que precisa ser enfrentado", disse Francisco Teixeira.
Lixo
Em Juazeiro do Norte, catadores da Associação Engenho do Lixo atuaram, por quase quatro anos, na despoluição do manancial. O trabalho, realizado por cerca de dez catadores, parou, no entanto, por falta de apoio do governo municipal, conforme explica o presidente José Leite da Silva.
"Não tínhamos nenhum incentivo financeiro da Prefeitura e acabamos parando no ano passado por não ser viável", pontuou. Durante o período, os catadores retiraram toneladas de garrafas PET e outros objetivos inusitados. "Cama, madeira, colchão, plásticos, eletrônicos quebrados e até uma urna funerária. Encontramos de tudo por lá", informou.
Há, no entanto, o que não pode ser retirado pelos catadores. Segundo o professor da Urca, o leito também recebe rejeito de matadouros clandestinos que, conforme Rodolfo, despejam cargas de sangue e dejetos de animais. A conclusão foi possível após vários estudos de níveis de poluição da água.
O estudioso considera que o rio está morto mas que "a situação ainda pode ser revertida com amplo trabalho de recuperação, envolvendo desde empresários, poder público, incluindo os órgãos ambientalistas e, claro, a sociedade civil. Se Deus quiser eu ainda verei o povo tomar banho de novo no Rio Salgado", finalizou Sabiá.
Fonte: Diário do Nordeste
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