sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Brasileiros desenvolvem ímã três vezes mais potente do que o comum



Com uma reserva de 22 milhões de toneladas de terras-raras, a segunda do mundo, o Brasil avança para dominar a tecnologia da cadeia produtiva dos superímãs. Isso porque o país acaba de obter os primeiros 100 gramas de didímio metálico, um dos elementos principais para a fabricação dos ímãs permanentes, peças-chave em turbinas eólicas e carros elétricos. O projeto, apoiado pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), caminha para a terceira e última etapa, que consiste na produção do pó da liga e do superímã em em escala laboratorial.
O produto é essencial para a indústria de alta tecnologia, sendo estratégico em setores não poluentes. Além de turbinas eólicas e motores de carros elétricos, é usado em discos rígidos de computadores e robôs. "A produção de superímãs pelo país não apenas visa atender a uma demanda específica. Ele vai deixar um legado de capacitação científica para o Brasil, que poderá competir em um mercado em que o fornecimento é praticamente exclusivo", afirma o diretor-presidente da Embrapii, Jorge Guimarães.
Três vezes mais potentes que os ímãs comuns e mais barato de produzir, os superímãs tornaram-se um produto de exportação quase exclusivo da China, que concentra as maiores reservas de terras-raras do mundo, com 55 milhões de toneladas, e responde por 90% do mercado mundial. Esse mercado movimenta por ano de US$ 2 bilhões a 3 bilhões.
O projeto brasileiro, que recebeu R$ 2,7 milhões em investimentos e é fruto da parceria da Unidade Embrapii Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), tem potencial para mudar esse cenário.
"Em um futuro breve, a obtenção do didímio mostra que é possível a sua produção em escala industrial. A ideia é que o Brasil tenha domínio tecnológico de toda a cadeia produtiva dos ímãs permanentes, desde a extração mineral das terras-raras até a fabricação dos ímãs", explica o diretor do Centro de Tecnologia em Metalurgia e Materiais da Unidade Embrapii IPT, João Batista Ferreira Neto.
Segundo ele, o único desafio é conseguir um custo de produção compatível com o chinês. "Temos tudo para ser uma opção interessante para os grandes consumidores do metal - Europa, Estados Unidos e Japão, que procuram alternativas de fornecimento para não ficarem dependentes dos chineses".
Campo magnético
A cadeia de produção do metal se inicia na extração dos minérios pela CBMM em Araxá (MG). Para chegar ao ímã, é preciso obter a liga didímio-ferro-boro em pó e fazer o alinhamento das partículas por meio do campo magnético aplicado durante a compactação, seguido de sinterização (solidificação do material) e tratamento térmico, dando, assim, origem ao ímã.
"Existe pouca informação fora da China sobre a separação de terras-raras e a produção de ligas metálicas para ímãs", diz Ferreira Neto.
Os ímãs feitos no país são de ferrite, à base de bário ou estrôncio, presentes nos pequenos adesivos fixados na geladeira.
Terras-raras
São considerados terras-raras os elementos que apresentam propriedades semelhantes, sendo que 15 deles são do grupo dos lantanídeos – lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio. Completam o grupo o escândio e o ítrio. As maiores reservas do Brasil estão nos estados de Minas Gerais e Goiás.
Desde a década de 1980, o mercado de terras-raras é dominado pela China. Em 2010, o governo brasileiro iniciou uma série de ações para avançar na implantação da cadeia produtiva no país. O alerta surgiu quando a China elevou o preço desses minerais.
O MCTIC já investiu R$ 11 milhões em políticas públicas, editais e parcerias público-privadas para o desenvolvimento de pesquisas e estudos sobre terras-raras. Além disso, o programa Inova Mineral, da Finep e do BNDES, dispõe de R$ 1,18 bilhão para estimular a cadeia produtiva de minerais estratégicos "portadores de futuro". As informações são do portal do MCTIC

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