Com uma reserva de 22 milhões de toneladas de
terras-raras, a segunda do mundo, o Brasil avança para dominar a tecnologia da
cadeia produtiva dos superímãs. Isso porque o país acaba de obter os primeiros
100 gramas de didímio metálico, um dos elementos principais para a fabricação
dos ímãs permanentes, peças-chave em turbinas eólicas e carros elétricos. O
projeto, apoiado pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial
(Embrapii), ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
(MCTIC), caminha para a terceira e última etapa, que consiste na produção do pó
da liga e do superímã em em escala laboratorial.
O produto é essencial para a indústria de alta
tecnologia, sendo estratégico em setores não poluentes. Além de turbinas
eólicas e motores de carros elétricos, é usado em discos rígidos de
computadores e robôs. "A produção de superímãs pelo país não apenas visa
atender a uma demanda específica. Ele vai deixar um legado de capacitação
científica para o Brasil, que poderá competir em um mercado em que o
fornecimento é praticamente exclusivo", afirma o diretor-presidente da
Embrapii, Jorge Guimarães.
Três vezes mais potentes que os ímãs comuns e mais
barato de produzir, os superímãs tornaram-se um produto de exportação quase exclusivo
da China, que concentra as maiores reservas de terras-raras do mundo, com 55
milhões de toneladas, e responde por 90% do mercado mundial. Esse mercado
movimenta por ano de US$ 2 bilhões a 3 bilhões.
O projeto brasileiro, que recebeu R$ 2,7 milhões em
investimentos e é fruto da parceria da Unidade Embrapii Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT) e a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM),
tem potencial para mudar esse cenário.
"Em um futuro breve, a obtenção do didímio
mostra que é possível a sua produção em escala industrial. A ideia é que o
Brasil tenha domínio tecnológico de toda a cadeia produtiva dos ímãs
permanentes, desde a extração mineral das terras-raras até a fabricação dos
ímãs", explica o diretor do Centro de Tecnologia em Metalurgia e Materiais
da Unidade Embrapii IPT, João Batista Ferreira Neto.
Segundo ele, o único desafio é conseguir um custo
de produção compatível com o chinês. "Temos tudo para ser uma opção
interessante para os grandes consumidores do metal - Europa, Estados Unidos e
Japão, que procuram alternativas de fornecimento para não ficarem dependentes
dos chineses".
Campo magnético
A cadeia de produção do metal se inicia na extração
dos minérios pela CBMM em Araxá (MG). Para chegar ao ímã, é preciso obter a
liga didímio-ferro-boro em pó e fazer o alinhamento das partículas por meio do
campo magnético aplicado durante a compactação, seguido de sinterização
(solidificação do material) e tratamento térmico, dando, assim, origem ao ímã.
"Existe pouca informação fora da China sobre a
separação de terras-raras e a produção de ligas metálicas para ímãs", diz
Ferreira Neto.
Os ímãs feitos no país são de ferrite, à base de
bário ou estrôncio, presentes nos pequenos adesivos fixados na geladeira.
Terras-raras
São considerados terras-raras os elementos que
apresentam propriedades semelhantes, sendo que 15 deles são do grupo dos
lantanídeos – lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário,
európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio.
Completam o grupo o escândio e o ítrio. As maiores reservas do Brasil estão nos
estados de Minas Gerais e Goiás.
Desde a década de 1980, o mercado de terras-raras é
dominado pela China. Em 2010, o governo brasileiro iniciou uma série de ações
para avançar na implantação da cadeia produtiva no país. O alerta surgiu quando
a China elevou o preço desses minerais.
O MCTIC já investiu R$ 11 milhões em políticas
públicas, editais e parcerias público-privadas para o desenvolvimento de
pesquisas e estudos sobre terras-raras. Além disso, o programa Inova Mineral,
da Finep e do BNDES, dispõe de R$ 1,18 bilhão para estimular a cadeia produtiva
de minerais estratégicos "portadores de futuro". As informações são
do portal do MCTIC
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