Pescadores
artesanais, vazanteiros, criadores de animais, piscicultores e membros
da Colônia dos Pescadores Quixelô se reúnem, nesta quinta-feira (28), na
parede do Açude Orós, em protesto à decisão de transferência de água do
reservatório ao Castanhão. Como já era previsto, o Orós, localizado no
Centro-Sul do Estado, passou a dar suporte, na semana passada, ao
Castanhão para abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A
votação aconteceu no último dia 20, na reunião do Comitê de Bacias do
Baixo e Médio Jaguaribe.
A
medida, entretanto, é questionada por alguns membros do Comitê de
Bacias Hidrográficas (CBHs) e criticada por moradores e pescadores dos
municípios de Quixelô e Orós, que temem prejuízos com a alocação das
águas do açude, construído na década de 60. Para Paulo Landim,
integrante do Comitê de Bacias, a medida afetará milhares de pessoas.
Ele lembra que, em 1993, as águas do Orós já tinham sido alocadas para a
capital cearense, também para suprir a falta de água, acarretando
dificuldades à comunidade.
"Há
23 anos, houve uma situação semelhante. Naquela época, com a retirada
das águas do Orós, o nível caiu para 13%. Neste ano, a estimativa é que
desça para 9% ao fim do ciclo de seis meses. É uma situação que nunca
presenciamos e não sabemos a gravidade do impacto. O certo é que muitas
famílias serão prejudicadas. Só na Colônia de Pescadores, são mais de
1.200 cadastrados, fora as famílias das 12 comunidades que tiram o
sustento do açude. Além disso, com o baixo nível do reservatório, após
seis meses, a Cagece não conseguirá tratar a água, causando grande risco
de desabastecimento na localidade", afirma.
Vazão
Inicialmente,
o Orós passa a liberar água em uma vazão média de 11,5m³/s para o Rio
Jaguaribe até o Castanhão. Desse total, serão encaminhados 4m³/s até
setembro. De setembro a janeiro, a liberação sobe para 16m³/s. Ao fim
deste período, a estimativa é que o Orós atinja 9,9% de sua capacidade
total, cerca de 3% a menos do pior cenário já verificado no reservatório
desde sua construção. Atualmente, o açude mantém pouco mais 32%.
Com
a transferência das águas do Orós, o Castanhão, maior açude do País e
principal abastecedor da RMF, passa a operar com vazão de 15 m³/s,
viabilizando o abastecimento da RMF, via Eixão, além de perenizar 100Km
do Rio Jaguaribe. Pelo canal, serão liberados 9,5m³/s. A Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) espera que um volume de 6,5m³/s
chegue até a RMF.
A
Cogerh minimiza os questionamentos acerca da transferência de água
afirmando não ser um fato novo, uma vez que o Açude Orós, segundo a
Companhia, "historicamente contribui para a segurança hídrica do vale do
Jaguaribe e complementarmente para RMF". Esta contribuição, acrescenta a
Cogerh, foi aliviada com a construção do Açude Castanhão, que desde
2004 tem sido responsável pelo atendimento do Médio e do Baixo Vale do
Jaguaribe, além da complementação da RMF.
Ainda
conforme a estatal, a partir da construção do Castanhão, o volume
acumulado do Orós foi resguardado e, agora, é capaz de contribuir
novamente com o Baixo e Médio Vale do Jaguaribe, "e complementarmente
com a RMF sem comprometer seus atendimentos locais". Segundo o
engenheiro agrônomo, Luiz Paulino Pinho Figueiredo, da Coordenadoria
Estadual do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas no Ceará
(Dnocs), além de o Orós receber uma maior captação de água (110 mi de m³
contra 68 mi m³ do Castanhão), a demanda é bem menor.
"Hoje,
a demanda do Orós está em torno de 2 a 3 m³/s, enquanto a do Castanhão é
de 14 m³/s, incluindo abastecimento humano, irrigação e
carcinicultura". Para Figueiredo, com o volume atual do Castanhão, não
seria possível garantir o abastecimento da RMF. "Orós é o único açude
estratégico para o suprimento", conclui. O Castanhão atingiu o menor
volume dos últimos 12 anos, com apenas 7.86% de sua capacidade total.
Prejuízos
Embora
acredite que o Orós é o único reservatório capaz de abastecer o
Castanhão, Luiz Paulino reconhece que "a redução no volume de água trará
impactos para a produção agrícola e piscicultura". Paulo Landim
concorda, ao ressaltar que o açude é "garantia de sobrevivência de
milhares de famílias, que serão amplamente prejudicadas com a retirada
de água".
Para
a secretária de Agricultura de Quixelô, Jessilene Josino de Araújo, com
a retirada da água a piscicultura será totalmente extinta no Município.
Conforme ela, a produção já segue uma curva decrescente nos últimos
anos devido ao longo período de estiagem. "Até 2010, nossa produção era
de 100 a 120 toneladas ao mês. Neste ano, a não ultrapassa as 10
toneladas mensais e, a partir da redução drástica do nível do açude,
provavelmente irá zerar", disse.
A
titular da pasta afirma que mais de 200 famílias vivem diretamente da
piscicultura ou agricultura artesanal em Quixelô, e "outras centenas
dependem indiretamente deste segmento". "Cerca de 80% da economia da
cidade gira em torno da pesca e agricultura, não sabemos como será no
futuro, o prejuízo será grande. A certeza é que afetará a cidade como um
todo".
fonte: portal icó news.
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