sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Irmã Neli: 90 anos da desbravadora do Bairro Limoeiro (Juazeiro do Norte)



O corpo magro e a voz rouca e cansada não combinam com o espírito de trabalho, os gestos e as orientações para as pessoas a sua volta. Mesmo cansada mostra uma vitalidade incomum para quem esteve há pouco tempo no leito de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e como que miraculada se recuperou para o convívio com as demais irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, das crianças da sua creche e, principalmente, dos moradores do Bairro Limoeiro, que cresceu graças ao seu espírito desbravador.

Irmã Maria Neli Sobreira da Silveira recebeu a reportagem do Site Miséria com um sorriso dizendo que não queria nada de “sofisticação” nas fotos e filmagens porque é uma pessoa simples. Paciente e calmamente aguardou a preparação do espaço para sentar-se e começar a contar um pouco da longa história de vida.   Com olhar distante relembrou com absoluta e invejável lucidez o nascimento, 14 de agosto de 1.925 no Sítio Brejo Queimado e da educação religiosa dos pais João Alexandre da Silveira e Cecília Gonçalves Sobreira.

Humilde lembrou-se de onde aprendeu as primeiras letras (Grupo Escolar Padre Cícero) e da Escola Normal Rural aos nove e dez anos, respectivamente. Irmã Neli foi primeira vereadora eleita do município graças ao apoio do Silveira, sendo que não pediu nenhum voto, tudo em agradecimento por sua dedicação como educadora. Foi no triênio 1.948/1.950.
A política não seria o caminho da jovem Neli. Em 1948 monsenhor Manoel Macedo instituiu a Ordem das Missionárias de Jesus Crucificado em Juazeiro do Norte. Vocacionada, Neli entra como postulante, aos 24 anos, quando partiu para Campinas em São Paulo executando votos em fevereiro de Irmã Neli no início da década de 70 exerceu cargos como de professora de religião da Escola Normal Rural, de música, do Dispensário Nossa Senhora das Dores e Ginásio Santa Teresinha. Foi ainda diretora da Escola Felipe Neri. Em 1972 chegou ao Bairro Limoeiro, onde com apoio da pequena comunidade começou a abrir ruas e a cuidar da pequena capela construída por padre Climério. Em sua charrete ou, principalmente, a pé, foi uma desbravadora. Seu zelo para com a capela a transformou numa bela e moderna igreja dedicada a São José. Fruto de sua articulação em 2003 o Bispo Diocesano, Dom Fernando Panico instituiu a Paróquia do Limoeiro.
Construiu também a residência das irmãs numa época em que sequer energia elétrica havia no local. O Centro Dispensário Nossa Senhora das Dores foi construído com ajuda do povo e de religiosos da Alemanha. Pessoalmente coordenou, como se construtora ou arquiteta fosse, toda a obra.  Grata, Irmã Neli reconhece todos os prefeitos que apoiaram e apoiam seu trabalho no tocante ao custeio do equipamento. Integrantes da comunidade lembram que antes de qualquer política governamental a religiosa realizava o sonho da casa própria de pessoas reconhecidamente pobres com doação de terrenos e até construções. Profundo conhecedor da vida e história da Irmã Neli, o professor, escritor e memorialista Renato Casimiro disse certa vez que por toda dedicação a causa do Juazeiro ela se tornou uma pessoa que transmite   intensa carga emocional com sua figura dócil, mansa, boa e santa com palavras generosas e caráter operoso minimizando sofrimento de um irmão em Cristo e atuando nas causas comunitárias. 
Edilberto Sobreira Rocha, também escritor, disse que o crescimento espiritual da Irmã Neli ocorreu justamente por seu zelo, dinâmica e apostolado das Missionárias de Jesus Crucificado mudando a visão sobre o Bairro Limoeiro, até a década de 1.970 um lugar esquecido. No entender de Edilberto, Irmã Neli redescobriu o Bairro Limoeiro. O também professor, escritor e memorialista Daniel Walker escreveu em 2005 sobre Irmã Neli e disse ser difícil imaginá-la política.  Disse que a família propôs uma carreira política, mas Deus a carreira religiosa com todos acatando o chamamento. Segundo ainda Daniel, o passar dos anos pode até minar suas forças, jamais o entusiasmo pelo que faz cuidar dos outros, sua prioridade, mesmo em detrimento de sua própria saúde. Padre José Adelino Martins Dantas, dentre as muitas virtudes de Irmã Neli ressalta a de uma mulher sem vaidades, de hábitos muitos simples e de uma vida inteiramente colocada a serviço dos mais necessitados.
Poderíamos falar mais sobre os 90 anos dedicados a igreja e o Juazeiro. Certamente que os comentários dos internautas contarão mais sobre as virtudes desta mulher, líder religiosa, comunitária e social. Seria injustiça não lembrar a importância da amiga Maria Nilce de Andrade, assistente social e fiel escudeira dos trabalhos da Irmã Neli. Nilce partiu para um plano superior, mas deixou uma marca social e religiosa e amizades sinceras. Louvemos a Deus agradecendo por seus 90 anos e cantemos parabéns como que para agradecer sua presença entre nós. Obrigado e felicidades sempre Irmã Neli.


veja a entrevista completa no link abaixo:

fonte site miséria...
 

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