domingo, 18 de outubro de 2009

Aviões do Forró vira fenômeno ao distribuir CDs de graça


"Não podemos esperar que a venda de discos alavanque uma banda. A estratégia hoje é em cima de divulgação em massa, distribuindo CDs." A frase é de Savyo Maia, produtor da banda Aviões do Forró, e resume a tática que transformou o grupo em um dos nomes mais populares da música brasileira.
Outra característica do Aviões do Forró: é propriedade de um grupo de empresários. A A3 Entretenimento, com sede em Fortaleza, é dona de duas emissoras de rádio, seis casas de shows e, além do Aviões, controla os grupos Forró do Muído, Solteirões do Forró, Forró dos Plays e Forró Real.
Os músicos desses grupos assinam um contrato de trabalho com a empresa: possuem carteira de trabalho, recebem salário mensal, férias, 13º salário...
"Funciona de acordo com a legislação trabalhista. Se tiver que demitir um músico, ele recebe aviso prévio, por exemplo, como se fosse uma empresa normal", afirma Carlos Aristides, um dos sócios da A3 --os outros são Isaías Duarte (também conhecido como Isaías CD porque ele tem a mania de rodar com seu carro distribuindo discos gratuitamente), André Camurça e Claudio Melo.
Todo mês, a A3 fabrica 50 mil CDs do Aviões do Forró. Esses discos são entregues gratuitamente aos fãs nos shows ou nas ruas --a banda tem dois divulgadores que percorrem diariamente as ruas de Fortaleza e de outras cidades com centenas de CDs no porta-malas.
O investimento nos CDs (o grupo tem sete discos, além de um DVD) é revertido com a receita obtida com a venda de ingressos nos cerca de 20 shows que a banda faz, em média, por mês (em junho, época das festas juninas, não é incomum estrelarem 40 apresentações).
Em cada show, o Aviões recebe por volta de 15 mil pessoas --o grupo já reuniu 100 mil pessoas em São Luiz (MA). Já tocaram em todos os Estados do país e foram escalados para o próximo Réveillon da Paulista, em São Paulo. No ano que vem, adicionam aos EUA países como Portugal, Espanha e Suíça na agenda internacional.
"É um outro sistema. O princípio é diferente do da indústria fonográfica", avalia o veterano produtor Pena Schmidt.
"O disco funciona para construir uma imagem. Além disso, no Ceará, há esse conceito de se investir em bandas como se investe em um empreendimento comercial. Os músicos são funcionários da empresa, toda a infraestrutura é administrada de forma profissional. Há esquema de divulgação complexo."

Casal de vocalistas
"O Aviões toca forró e ponto. Podem chamar de forró eletrônico, forró moderno ou o que for, sei que devemos tudo isso ao rei Gonzagão, a Jackson e seu pandeiro e a todos os que trabalharam para chegarmos até aqui", diz o vocalista Xandy, que antes de virar Xandy Avião cantava em pequenos bares do Ceará e Rio Grande do Norte (ele é de Apodi, no RN).
A companheira de Xandy nos vocais do Aviões é Solange Almeida, que cantava profissionalmente em outros grupos.
"Era um casal que ninguém apostava. Não eram bonitinhos, eram até gordinhos, mas cantam muito bem", diz Savyo Maia. A dupla foi recrutada pelos sócios da A3, que desejavam formar a maior banda do Brasil.
O nome do grupo foi criado com a pretensão de remeter a algo grande, "que está por cima", de acordo com os empresários. "Além de fazer referência a mulheres bonitas."
A equipe do Aviões do Forró é formada por 42 pessoas, entre músicos, dançarinas e técnicos. Viajam pelo país em dois ônibus customizados.

Originalidade
No universo do forró, você sabe que uma música está fazendo sucesso quando ela é tocada por diversas bandas. Foi o que aconteceu com "Você Não Vale Nada Mas Eu Gosto de Você", tema da personagem de Dira Paes na novela "Caminho das Índias". Composta por Dorgival Dantas, a música é tocada por infinitos grupos --mas muitos pensam que é original do Aviões do Forró.
A estratégia de distribuir gratuitamente CDs foi crucial para a popularização do grupo. André Camurça, da A3, diz que outros fatores contribuíram.
"A banda inovou ao contar com um casal de vocalistas, porque as bandas costumam ter vários vocalistas. E a própria batida musical é diferente. Eles começaram dentro do estilo forró vaneirão, que é típico do Sul do Brasil [leia texto abaixo], mas hoje fazem forró pé de serra, romântico. Não copiaram ninguém".

fonte:
THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

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